quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Transformação

Para transform.ação
É preciso ação.
Para ação
É preciso cor.ação.
Ação do coração é cor.agem.

Para o coração agir
É preciso sentir.
Para sentir
É preciso permitir.
Deixar ir,
Deixar vir,
Fluir.
Corpo e alma unir.

Para transformação
É preciso ação
Corpo, alma, coração.

sábado, 12 de setembro de 2020

Cheiros

Percebi que estava com saudade de senti-los quando fiz meu primeiro passeio de carro à beira-mar no início da quarentena. Quando senti o cheiro do mar percebi o quanto a sua variedade me fazia falta. Eu que sempre fui apegada aos perfumes e às memórias que eles me traziam, me vi numa repetição de cheiros que me aprisionava. 

Desde então experimentei novas comidas e me pego passando uma infinidade de produtos na pele e nos cabelos, talvez na tentativa de buscar novos cheiros ou variar o meu próprio.

Mas me falta o cheiro de pele, cheiro do outro. Aquele cheiro de roupa limpa que tem dentro do abraço. Ou talvez aquele cheiro de suor com perfume que persiste ao final do dia. Ou o cheiro de suor vivo e iminente que a gente sente na hora do sexo.

Um cheirinho de comida que chega antes do próprio prato chegar à mesa. Um cheirinho no cangote do neném que nos traz paz e somos tomados de um amor incondicional.

Cheiros dos lugares. O abafado e aconchegante cheiro do teatro. O cheirinho de acarajé misturado com a maresia da praia. O cheiro da casa de alguém.

O cheiro me guia, me traz alegria, emoção, lembranças, por vezes me irrita...

Os cheiros são sinal de vida. A falta deles me traz solidão, distanciamento, falta de vida, pois até a morte tem o seu próprio cheiro.

Sigo criando artifícios para manter o olfato vivo até que seja possível e seguro novamente dar um abraço demorado, com o rosto enterrado no pescoço e com direito a cheirar sem ter hora pra acabar...