domingo, 15 de novembro de 2020

Páginas

Tantas páginas em branco
Sem saber qual é a última
Última página
Última palavra
Último sentimento

Todos últimos, todos primeiros
O que separa primeiro e último?
É o que mais importa...
O caminho, o processo
O que acontece entre dois pontos.
O viver reside no "entre"
No ventre, visceral...

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Transformação

Para transform.ação
É preciso ação.
Para ação
É preciso cor.ação.
Ação do coração é cor.agem.

Para o coração agir
É preciso sentir.
Para sentir
É preciso permitir.
Deixar ir,
Deixar vir,
Fluir.
Corpo e alma unir.

Para transformação
É preciso ação
Corpo, alma, coração.

sábado, 12 de setembro de 2020

Cheiros

Percebi que estava com saudade de senti-los quando fiz meu primeiro passeio de carro à beira-mar no início da quarentena. Quando senti o cheiro do mar percebi o quanto a sua variedade me fazia falta. Eu que sempre fui apegada aos perfumes e às memórias que eles me traziam, me vi numa repetição de cheiros que me aprisionava. 

Desde então experimentei novas comidas e me pego passando uma infinidade de produtos na pele e nos cabelos, talvez na tentativa de buscar novos cheiros ou variar o meu próprio.

Mas me falta o cheiro de pele, cheiro do outro. Aquele cheiro de roupa limpa que tem dentro do abraço. Ou talvez aquele cheiro de suor com perfume que persiste ao final do dia. Ou o cheiro de suor vivo e iminente que a gente sente na hora do sexo.

Um cheirinho de comida que chega antes do próprio prato chegar à mesa. Um cheirinho no cangote do neném que nos traz paz e somos tomados de um amor incondicional.

Cheiros dos lugares. O abafado e aconchegante cheiro do teatro. O cheirinho de acarajé misturado com a maresia da praia. O cheiro da casa de alguém.

O cheiro me guia, me traz alegria, emoção, lembranças, por vezes me irrita...

Os cheiros são sinal de vida. A falta deles me traz solidão, distanciamento, falta de vida, pois até a morte tem o seu próprio cheiro.

Sigo criando artifícios para manter o olfato vivo até que seja possível e seguro novamente dar um abraço demorado, com o rosto enterrado no pescoço e com direito a cheirar sem ter hora pra acabar...

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Você

Ah você...
Você sempre me confundiu, me virou do avesso. Vinha, me bagunçava e ia embora, sempre me deixando sem saber como arrumar. Eu fui jogando tudo debaixo do tapete, o tapete debaixo da cama e quando percebi a casa inteira era uma completa bagunça e não dava mais pra entrar.

Então eu resolvi te dar a chave da casa como sendo o último suspiro de quem está se afogando. E o que você fez? Pegou a chave e não soube o que fazer com ela e, mais uma vez foi embora.
Dessa vez você foi com a chave e me deixou aqui sem saber se a porta está trancada ou não.

Será que eu posso começar a arrumar essa bagunça sem você ou você ainda vai voltar pra me ajudar?
Confesso que, apesar de tudo, eu queria a sua ajuda. Não vai ser fácil mexer nisso tudo sem você. Mas se você for voltar só pra devolver a chave, fique sabendo que não precisa. Pode se desfazer dela em qualquer lixo da esquina. Não faz mais diferença...

Lambada

Você já dançou aquela lambada antiga com alguém?
Aquela música que te traz uma alegria e você nem sabe porque. Te faz mexer o corpo, os quadris, te dá calor. Você gira, rodopia, se deixa ser guiada, esquece do mundo ao redor. Por alguns minutos você acredita que poderia ser dançarina, pois os passos fluem, você sorri e tudo parece se encaixar.

Mas toda música acaba e você lembra que não é dançarina. 
Fica apenas uma lembrança divertida de momentos de liberdade...

Asas

Começou arrancando uma pena aqui, outra ali.
Fui deixando...achei que realmente não precisava mais delas. Fui confiando em você.
Quando percebi, eu chorava por não conseguir mais voar, me sentia enclausurada, em 'cárcere privado'. Um pássaro engaiolado que vai perdendo suas cores, seu brilho. E você me fazia sentir como se a culpa fosse minha. E você não me amava mais por eu não saber voar, mesmo sendo você o responsável por cortar minhas asas.

Quando você abriu a gaiola me perguntou porque eu chorava, visto que agora eu estava livre.
Foi cruel.

Eu, então, caí no mundo, mas me levantei. E já me levantei voando. O voo leve como o suspiro após o alívio da dor.
Porque "a gente nasce todo dia pra viver melhor".

terça-feira, 19 de maio de 2020

Encontro


...e eu descobri você.
Aquela luz amarelada, o abraço com cheiro do amaciante da camisa. Chego perto do seu pescoço, sinto o perfume. Eu adoro perfume.
Não queria que o abraço terminasse mas após alguns segundos surge o constrangimento de corpos que ainda não se conhecem, não têm intimidade. Seguimos para a mesa. Cardápio. Quem consegue pensar em escolher um prato? Só queremos um ao outro, mas falta a intimidade, a dúvida da reciprocidade.
O álcool talvez ajude, você receia, peço um drink, você me acompanha. Gosto de me sentir no comando, nem que seja pra decidir quando o comando passa a ser seu. 
O clima é tenso, o ar está parado.
Tento quebrar o gelo, você ri. Chega mais perto. Meu coração acelera, será que consegue ver ele pulsando no meu peito? O cenário desaparece, só vejo você. O beijo.

Garçom interrompe - os drinks chegaram.

Sorrimos com os olhos, uma intimidade foi criada, uma cumplicidade.
Daí em diante tudo fica mais leve e a noite segue suave.

Haverá um próximo encontro?

sábado, 16 de maio de 2020

Café e seus rituais

A primeira memória afetiva que tenho com café é na casa de vovó. Na mesa da cozinha Tonha preparava café, pão, biscoitos. Vovô na cabeceira. Era onde eu tomava café com leite na xícara de flor.

Quando a gente começa a trabalhar e acordar às 5h da manhã, o café vira item essencial e assim aconteceu comigo. No início era só um café de manhã cedo, antes da primeira reunião. Aos poucos passou a ser uma desculpa pra se reunir com amigos após o almoço e tomar aquele expresso. Era um momento de respiro da rotina estressante, um momento de comunhão e onde amizades se fortaleceram.

Hoje tenho amigos de café. Aqueles em que a desculpa pra se encontrar é um café (muitas vezes com bolo).
Minha família, onde for, se une ao redor do café. Divergimos em tanto, no unimos no café. Compartilhamos marcas, formas de fazer e cafeteiras. Convidamos um ao outro para um café.

Mas existe um ritual do café na minha rotina há pouco mais de um ano. Entre 17h e 18h eu viro pra minha mãe e falo: café? Se eu não falar, ela fala. Todos os dias fazemos café uma pra outra. É um momento nosso, nosso ritual. Sei que um dia vou sentir saudade disso e aproveito todos os dias que estamos juntas e tomamos nosso café.

E você, qual sua desculpa para estar perto das pessoas?
A minha é o café!

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Desabrochar

(escrito em 06/10/2019)

Desabrochar:
abrir (se); transformar (se) em flor.

É sobre sentir-se em casa no próprio corpo. É fazer as pazes com o espelho, é gostar do que vê, é ter orgulho de tudo que se tornou.
É ter certeza que merece mais do que migalhas, que você se basta e não deve satisfações.
É não ter vergonha de si, dos julgamentos, das críticas porque está segura de si.
É tentar se manter assim o maior número de dias.
É ser feliz consigo mesma.
É se amar!

A hierarquia das relações

(escrito em 05/05/2019)

Em uma das minhas pesquisas sobre relações não monogâmicas me deparei com esse termo que fez minha mente clarear: hierarquia das relações.

A sociedade coloca o relacionamento romântico como o mais importante de todos, mais importante até que os próprios pais. É como se quando você se casasse você trocasse seus pais pel@ seu/sua companheir@.

Isso não é uma loucura?

Eu acho que todas as relações têm igual importância quando são verdadeiras: amigos, família, amores, casos, etc.

É aí que reside o problema de muitos relacionamentos, quando se diz que alguém "trocou a família para sair com os amigos". Gente, nós temos que nutrir todas as nossas relações de forma igual, pelo menos é isso que eu quero pra mim.
Tem gente que prefere estar com amigos do que com a própria família de sangue e muitas vezes sente uma culpa enorme por isso.
Eu acredito que a gente deve estar com quem nos faz bem, quem nos traz paz e nos acrescenta coisas positivas.

"Ninguém é feliz sozinho"

(escrito em 09/01/2019)

Ei, você aí acredita que ninguém é feliz sozinho? Pois é, eu também!
Ubuntu! Gente precisa de gente pra ser gente!

Epa! Mas quem disse q eu tava falando de relacionamento a dois? E quem disse que se você não tiver um casal você é sozinho? Pare de esperar a 'pessoa certa' que vai fazer tudo ser diferente!
Quem disse q esse crush aí não é a pessoa certa pra agora? Pare de pensar q é a pessoa errada e vá curtir o momento!
Quem inventou isso que o maior e melhor amor é o último? Será que você já não viveu o grande amor da sua vida na hora que tinha que ser?
Pare de esperar o final da novela em que seu par perfeito aparece! Isso é só mais um padrão criado pra gente se sentir mal!
Vá amar, sua família, amigxs, gato, cachorro, planta...
Nós precisamos é de amor, puro e verdadeiro!

A vida não pára

(escrito em 06/01/2019)

A vida não pára, é como o mar. As ondas sempre indo e voltando. Você passa a vida inteira batalhando, lutando pra ficar tudo tranquilo, pra alcançar paz e estabilidade mas essa hora nunca chega.
Quando você conserta uma coisa, aí vem outra e outra e você nunca descansa. A vida não te deixa parar. Eu só queria um intervalo tranquilo às vezes pra poder curtir as conquistas e as alegrias, mas parece que a vida te atropela e não param de vir demandas de todos os lados. 
É preciso estar sempre muito firme e confiante pra aguentar tudo que nos acontece sem desabar ou sucumbir.

Escrever...

(escrito em 20/08/2018)

Necessidade, vontade, paixão, refúgio.
É quando o coração parece que vai explodir e aí os pensamentos / sentimentos escorrem pelas mãos e se registram no papel.

Desde antes de aprender as letras já me via acompanhada de papel e caneta brincando de escrever.
Me ajudou nas primeiras demonstrações de afeto até os dias mais difíceis em que chorar já não era suficiente para se livrar da dor.

Escrever para alguém, ou não.
Escrever para compartilhar, ou não.
Escrever pelo simples fato de pensar e sentir fora do corpo.

A arte de deixar para trás...

(escrito em 15/07/2018)

Pessoas, lugares, relações, bagagens e até partes de si.
"Agora onde sou, quem estou?"
Se descobrir, cada pedacinho seu.
Descobrir seu lugar no mundo, seu significado. Descobrir seu corpo, seus sentimentos. Ter consciência de si.
Fácil? Nem um pouco. Transformador? Sim, gratificante.

Cor.agem: agir com o coração. Afinal o que o amor faria? Porque as melhores decisões são tomadas quando a sua razão e o seu coração estão conectados e alinhados com o seu propósito.

E então qual o seu propósito nessa nossa existência? Você está em busca do que te faz feliz ou apenas esperando a felicidade bater na sua porta?

Devaneios


(escrito em 17/04/2020)

Às vezes me deito na sala e sinto como se morasse numa floresta. 
Vejo o azul do céu através das verdes folhas da amendoeira. Outras folhas variadas, que habitam nosso canteiro, também compõem a cena. 
Vejo tudo sob a leve brisa do ventilador, deitada sobre um colchão fofinho no meio da sala de um apartamento. 
Não moro na floresta, tampouco estou perto de uma. Porém gosto de viver essa ilusão, me faz lembrar que a natureza é parte de mim e eu sou parte dela.

Retornos

E 6 anos depois, olha eu aqui novamente...

Quantas mudanças, mas ao mesmo tempo os textos ainda fazem tanto sentido!
Inspirada por um romance que retrata a história de uma escritora de um blog (Americanah - Chimamanda Ngozi Adichie) retornei.

Quantos textos não publicado nesse tempo? 
Quantas histórias não contadas?
Quantas palavras não ditas?
Tudo guardado no caderninho da cabeceira da cama.

Em tempos de pandemia mundial o que há a se dizer? Qual a real importância desse blog nesse momento?

Sem dúvida muito mais perguntas do que respostas. E mais uma para finalizar: retomar ou não o blog?