quarta-feira, 17 de junho de 2020

Você

Ah você...
Você sempre me confundiu, me virou do avesso. Vinha, me bagunçava e ia embora, sempre me deixando sem saber como arrumar. Eu fui jogando tudo debaixo do tapete, o tapete debaixo da cama e quando percebi a casa inteira era uma completa bagunça e não dava mais pra entrar.

Então eu resolvi te dar a chave da casa como sendo o último suspiro de quem está se afogando. E o que você fez? Pegou a chave e não soube o que fazer com ela e, mais uma vez foi embora.
Dessa vez você foi com a chave e me deixou aqui sem saber se a porta está trancada ou não.

Será que eu posso começar a arrumar essa bagunça sem você ou você ainda vai voltar pra me ajudar?
Confesso que, apesar de tudo, eu queria a sua ajuda. Não vai ser fácil mexer nisso tudo sem você. Mas se você for voltar só pra devolver a chave, fique sabendo que não precisa. Pode se desfazer dela em qualquer lixo da esquina. Não faz mais diferença...

Lambada

Você já dançou aquela lambada antiga com alguém?
Aquela música que te traz uma alegria e você nem sabe porque. Te faz mexer o corpo, os quadris, te dá calor. Você gira, rodopia, se deixa ser guiada, esquece do mundo ao redor. Por alguns minutos você acredita que poderia ser dançarina, pois os passos fluem, você sorri e tudo parece se encaixar.

Mas toda música acaba e você lembra que não é dançarina. 
Fica apenas uma lembrança divertida de momentos de liberdade...

Asas

Começou arrancando uma pena aqui, outra ali.
Fui deixando...achei que realmente não precisava mais delas. Fui confiando em você.
Quando percebi, eu chorava por não conseguir mais voar, me sentia enclausurada, em 'cárcere privado'. Um pássaro engaiolado que vai perdendo suas cores, seu brilho. E você me fazia sentir como se a culpa fosse minha. E você não me amava mais por eu não saber voar, mesmo sendo você o responsável por cortar minhas asas.

Quando você abriu a gaiola me perguntou porque eu chorava, visto que agora eu estava livre.
Foi cruel.

Eu, então, caí no mundo, mas me levantei. E já me levantei voando. O voo leve como o suspiro após o alívio da dor.
Porque "a gente nasce todo dia pra viver melhor".