sábado, 1 de outubro de 2022

Eu sempre gostei de ser política

 Vovô Carl cresceu numa Alemanha nazista, Vovô Grimaldo viveu a ditadura brasileira com medo, um homem genuinamente comunista. Minha história sempre foi claramente política (a de todos nós é, mas eu nem podia negar).

Quando pequena eu gostava de ir votar com minha mãe e dizer que era Lula pra agradar ela, uma das maiores consciências políticas que eu conheço até hoje.
Hoje, mulher feita, feita de muita luta apesar dos privilégios, de origem alemã, indígena e preta, também sou feita de muita consciência, muito pé no chão. Criada com consciência de classe e de coletividade, aprendi que meu voto não é só meu, vai além do meu umbigo e que eu só sou, porque nós somos, ubuntu!

E por tudo isso continuo gostando de ir votar, da sensação de pertencimento à uma nação tão rica, tão bonita e tão diversa.
Com olhos marejados de emoção, escrevo: Viva o Brasil, nós voltaremos a ser feliz!

sábado, 29 de janeiro de 2022

Como ser gente se eu sou mulher?

[um recorte de uma mulher branca, cis, hetero que atende aos padrões de beleza impostos]

Desde muito pequena sempre tive muitos amigOs. Logo cedo eu percebi que o grupo dos garotos tinha muito mais liberdade que o das meninas. Na adolescência essa diferença foi ficando mais gritante e os meninos podiam sair e se divertir mais que eu. Tive muita inveja. Mas quando vieram os relacionamentos amorosos é que tudo ficou absurdamente injusto. 

Primeiro de tudo que o amor romântico é uma construção social para a manutenção do patriarcado. E o que é vendido como o objetivo principal da vida da mulher? Achar o seu grande amor. Dentro desses relacionamentos heterossexuais é esperado da mulher um papel que é extremamente limitado. Ela deixa de ser ela mesma e passa a ser a namorada/esposa/etc e junto com esse título uma série de comportamentos passam a ser esperados dela. Comportamentos pacatos, de não exposição, de submissão e anulação. É sempre mais esperado de uma mulher que ela sofra do que ela se divirta. É espantoso uma mulher que gargalha alto, mas é aceito aquela que é depressiva. 

Me dei conta de quantos bares, festas, viagens fui a única mulher do grupo. Eu nunca me permiti me limitar à esse papel imposto e sempre quis desafiar essa normatividade. Se eles podem, porque eu não posso? E pude muitas vezes. Mas a que custo? Não é fácil você enfrentar todo um sistema porque não é apenas sobre você. A verdade é que você não é livre pra escolher não casar, não ter filhos, não seguir a cartilha imposta porque isso nunca será visto como uma escolha. E você passa a se questionar o tempo todo o que você quer, o que você é. Você não é sujeito, você é objeto. Não tem direito à ação, deve se submeter às normas impostas ou não terá direito ao amor, carinho e afeto. Será alijada, rejeitada.

A verdade é que nenhuma mulher cabe no pequeno papel que nos é dado. E quanto mais consciente disso, mais difícil se torna viver.

Mulher é potência revolucionária e sangra todos os dias ao ser podada nas diversas esferas que habita.